Fitas coloridas, balões, e latas
Jairo Ferreira Machado
Contemplou-a de cima a baixo, demorando mais os olhos no decote da camisola dela, onde arfavam desafiante aquele lindo par de seios, que sua mente infante tanto os imaginara mornos sob a blusa costumeiramente decotada desde os seus tempos de escola e adolescência - quando iam e voltavam das aulas, juntos.
Agora, anos depois, tinham crescido, e naquele momento a seda fina envolvia-os permitindo transparecer os mamilos, que com certeza seriam rosados; tocasse-os com os próprios lábios, deveriam ser também doces como favos de mel – concluía apenas no olhar.
O tempo era uma soberba eternidade. Abriu a cerveja e encheu os dois copos; tomou logo os dois, sem sentir o gosto do álcool.
Deu um passo a frente. Ela tremia; mais ainda tremiam-lhe os lábios. O brilho no olhar – de cio e receio – quando ele posou-lhe às mãos nos ombros: eram macios, mornos e frágeis. Talvez pudesse esmagá-los com a franqueza de sua brutalidade varonil.
Puxou-a para si, num abraço terno e demorado. O calor daqueles seios pontudos e firmes penetrando seu peito, como punhais em brasa. O sangue corria-lhe apressado pelas artérias.
Chorava, lembrando a cerimônia do casamento.
Uma música suave vinha de algum lugar, tomando por inteira a sua alma – como uma orquestra de anjos tocando somente pra ela; agora, ela finalmente seria sua.
Ombros e mãos, uma única carne, um só calor. Inservíveis, deixou que arriassem as alças da camisola dela; porém, a moldura dos seios, como duas pirâmides, reteve-os no bico dos mamilos.
Afastou-se um pouco e viu o tecido se escorregar entre seus corpos, indo alojar-se em seus pés; inservíveis também!
Teve medo de que tudo aquilo não passasse de um sonho, como muitas vezes já acontecera – sua mente, implacavelmente mentirosa – as infinitas noites, sozinho na cama, em sovinices, pensado nela.
Encheu o copo de cerveja e o tomou inteiro numa golada só; e mais outro, só imaginando o quanto ela seria doce e afetuosa.
Dobrou os joelhos, para melhor se deliciar. As lagrimas desciam-lhe pelo rosto, transbordando tanto quanto o copo de cerveja; bebeu mais um copo e mais outros.
Tocou-lhe os seios com os lábios; o gosto cáustico misturado a um aroma atrativo de carne sã. Ainda que não olhasse, podia imaginá-la mordendo os próprios lábios. Suas mãos agora caminhavam pelas suas coxas escorregadias, como a seda da camisola.
Um fausto calor influía de sua carne. Abaixou-lhe a peça íntima: ela perniciosa, preciosa, prestimosa. Tudo conforme sua mente púbere muitas vezes, sonhava.
A música agora propunha a vastidão de um sonho, muito longe. Tomou mais dois copos de cerveja, um seguido o outro; como se a cerveja fosse ela, como se a bebesse, com a ganância de um ébrio.
A nudez dela, escandalosa, a sua frente. Era linda! Mais linda estivera lá no altar, vestida de noiva. Voltou àquele instante: as luzes e os vitrais refletindo o brilho do seu olhar, no dela; ela adentrando a igreja, toda de branco, tal como ele sonhara, um dia.
Ela chorava e teria dito: sim, na saúde e na doença.
Ainda que a cerveja amargasse como fel em sua boca, tomou mais dois copos cheios. A espuma como estrelas cadentes, gotículas de sonhos, entornando de seu copo, e da sua mente.
Levou-a pra cama. Toda a beleza esculpida por sua mente, naqueles anos, punha-se exata sobre os lençóis de cetim. Ela cheirava a sândalo e cio: a cama macia, e seus corpos nus.
Tomou o derradeiro copo de cerveja, já sentido o fervor sanguíneo, rutilante, transbordando lá do fundo do seu peito; como cacimba.
O fatal frio-aço do punhal. No exato momento em que o carro dos recém-casados, ornamentado de fitas coloridas, balões e latas, passava em frente ao bar; os sonhos aos poucos se acabando.
E ela nem sequer olhou pro seu lado.
Uau, surpreendi-ne! Gosto muito de sua escrita. Por acaso tem livro publicado? Bjs
ResponderExcluirBelvedere
Tenho sim Belvedere, mas não de contos. É o meu objetivo, estou me preparando.
ResponderExcluirE obrigado pela sua opinião.
abrs. jairo
Quando lançar me avise que quero divulgar. Vc é muito bom.
ResponderExcluirAbs
Belvedere
EStou te lendo mesmo que não comente tudo, ok?
Na digitação acabei colocando um queque....uai, desculpe. Na pressa de enviar nem notei, confesso.
ResponderExcluirBelvedere