Jairo Ferreira Machado
Gilberto era um jovem bonitão, estatura média, olhos grandes e cheios de vida; embora coxo (sequela da poliomielite), não lhe faltava à aparência de ator de novela. Morava de favor com o tio, Vanor Venture, gerente da cooperativa de leite.
Eu, que vos escrevo, um simples capiau da roça, pele malhada do sol, mãos calejadas da enxada, cabelos arrepiados; e para piorar a situação: a timidez. Celi era filha de um abastado dono de loja (Casa Araújo); a jovem sobejava meiguice e simpatia, dona de um sorriso encantador. Exceção, quando percebia os olhos de Gilberto voltados para a bela Ana Merij.
Ana, era filha de um conceituado dono de máquina de beneficiar arroz; a moça dotada de um incomum encanto, vestida no seu uniforme cáqui, a blusa escondendo um arquétipo par de seios, a mini-saia expondo-lhe as coxas. Não havia rapaz que não lhe ajuizasse um pensamento lúbrico.
Tínhamos todos como cenário de encontro o Ginásio de Recreio; o coração no retumbe do cupido. Uns melhores conceituados, outros nem tanto; situação essa que, não por acaso, a vida, maquiavélica, tratou de fazer alguns acertos.
Num dia daqueles, o destino me apresentou Gilberto; ele com seu defeito físico, recém-chegado de Abaíba, eu com a minha timidez, vindo da roça, ambos ali recuados no canto do pátio do Ginásio de Receio, meio que excluídos. Supúnhamos!
Não demorou muito e Gilberto já tinha o seu fã-clube. Entre outras tantas, Celi. Como estávamos sempre juntos Celi aproveitou da minha intimidade com ele para confabular seus sentimentos; os olhos da jovem brilhavam de paixão. Lembro o perfume dela inebriando os meus neurônios enquanto eu olhava aqueles lábios tomados de ternura, falando do seu amor por Gilberto; confesso, quase fui seduzido por aquele doce hálito. Gilberto, nem aí!
O coração do moço caidinho por Ana; não só ele, mas todos os rapazes da cidade! Celi que amava Gilberto; Gilberto que amava Ana; Ana que amava... (não me lembro quem; por certo, um felizardo qualquer!). E eu, no pensamento, cortejava as duas – através dele.
Mas a paixão de Celi se esbarrava em mim; eu não revelava ao amigo Gilberto as confidências dela – o coração conflitante, o receio ainda maior. Tampouco me aproximava de Ana para dar os recados do amigo (falando do seu imenso amor por ela).
Tinha eu tanto medo da abundância, daquela sensualidade lasciva quanto ele; muita beleza para o nosso balaio; muita timidez para o nosso almejo...
Tinha eu tanto medo da abundância, daquela sensualidade lasciva quanto ele; muita beleza para o nosso balaio; muita timidez para o nosso almejo...
Certo dia o Gilberto se foi; nunca mais o vi. Assim, de repente, eu deixei de ser sua referência para as jovens sonhadoras. Passei a viver os meus próprios sonhos: algum dia ir embora também.
O expresso da tarde me fazia crer que lá fora havia um mundo a ser conquistado. Mais tarde se foram todos, na cadência da vida. O recreense é assim, vive de partida. Vive de voltar, senão para sempre, para recordar, para falar da vida (da vida presente e daquela que permanece viva dentro da gente).
Ah!..Jairo, se eu soubesse! Fica me devendo esta, Gilberto era tudo que eu queria...rs.
ResponderExcluirQue trem bão Menino...Saudades todas!
nanamerij
Passei algumas férias na casa de Tio Amim, Pai de Nana-em Recreio: nana sempre foi linda [e continua], nós[ as outras meninas]morríamos de inveja dela...li, senti saudades de lá.
ResponderExcluirFilipa Saanan