sexta-feira, abril 06, 2012

Que cabresto, que freio que nada, no que viram os donos pelas costas, foram às vias de fato e direito


Tudo é questão de cismas


Jairo Ferreira Machado

A bainha a faca de ponta presa à cintura, no costume, modo cortar o fumo de rolo, tendo também outras serventias, arrancar uma farpa do dedo, aparar uma unha e outros senões; vai que daí alguém bestasse com ele! No mais a mesmice. O cavalo indo às peidanças caminho afora.
À sombra do angico parou e apeou; esperar o compadre que vinha à distância rosetando a égua, diga-se, no apressar dos momentos, que já estavam atrasados para o porvir, as sabatinas e arranca-rabos, e para tais entreveros, dois era melhor que um.
O carvalho ergueu as orelhas, relinchou sentindo o cheiro da bem-vinda égua; roncolho, castrado de imperfeito, mas ainda assim se assanhava. Montou-o novamente e o segurou nos freios, no travão, a espora no apertado do sovaco, que o recém-crescido daquele, em estado de armado, se minguou de imediato.
Mas que aquela égua estava nos conformes, estava. Saudaram-se - olá!, o compadre respondeu, como está?, e se foram, mandatórios.
Os animais na retidão e curvas do caminho, o macho, um olhar na estrada e outro na égua; e essa, vinha-lhe já de rabo erguido, mais pro sim, agora, no imediato, do que pro depois. Mas, solertes, em silêncio, os animais confabularam: temos tempo pela frente.
E foram amarrados, ali, debaixo de um barracão, a expensas de serem donos de si, pois os donos tinham pressa. Para a reunião.
Que cabresto, que freio que nada, no que viram os donos pelas costas, foram às vias de fato e direito, fatais, magnânimos, nem tanto o roncolho macho, caolho de um grão, maceteado pelas mãos do senhorio, mas nem de todo morto; era um restolhozinho que ainda produzia alguns fiapos de masculinidade.
E foi o bastante, para empinar o comando. A égua murchou as orelhas, desavergonhada, e o agasalhou, dizendo-se, obrigada! 
Lá pelas tantas o homem já tinha a faca desembainhada, que aquele outro, detentor da cooperativa, não quisesse pagar melhor pelo leite; vinha daí a reunião, e o próprio, o gerente, já era um leite derramado, no exato instante em lhe enfiasse a faca nos bofes.
Pelo sim, pelo não, o compadre se adiantou, precavido, que não valia à pena, mantivesse o aço na bainha, que o ímprobo, ia receber mesmo era somente um murro na boca do estômago, e foi o que aconteceu, feito coice de mula, que o homem gemeu, e tratou de mudar a opinião; sendo assim, pagaria um pouco mais.
Já era noite. Os curiangos levantavam voo pelo caminho. Riam-se, confabulavam-se: - Compadre, estou achando este meu alazão meio bambo das pernas, e essa sua eguinha, com cara de enxertada; ou é cisma minha? - Nem carece preocupação, vizinho, o seu cavalo, para isso, e outras prerrogativas mais, de almejar filho, já há muito anda descontado.
- No mais, é coisa de lua, ocê não vê a minguante, um recurvo de giz nos confins do firmamento, e aquele ali, na escuridão, vagalumeando à toa, parecendo olhos de lobisomem? Tudo é uma questão de cisma, nesse mundo.
- Até o homem lá da cooperativa, achando que levou mesmo no estômago, um coice de mula... Que nada, compadre, foi um coicinho à toa, com pena do sujeito, nem forcejei muito o murro. 
Mais uma vez o curiango mudou o pouso, desta feita, muito mais longe na estrada... 

 

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