quinta-feira, julho 21, 2011

...o Caminho é de Diamantes, que se fazem chamas no nosso peito.




Caminho dos Diamantes?




São sete horas da manhã. Os melros gorjeiam o amanhecer lá pelos altos dos morros, durante as frias manhãs, enquanto nossos passos entoam entusiasmados com seus cantos e encantos; éramos tão somente doze peregrinos, fazendo o Caminho dos Diamantes – nove homens e três mulheres; dez catarinenses, um mineiro e um gaúcho.
Depois de curtirmos a vesperata em Diamantina, marchamos ao encalço das pegadas dos escravos, levando pertences, desafios e sonhos. Em vez de diamantes. Quem dera a gente os trazendo de volta, para a terra de onde nunca deveriam ter saído. E a que custo saíram?... Pode-se imaginar!
Mais tarde a luz do sol desvendava o luzeiro do chão, salpico de estrelas, como se realmente pisássemos em pedras preciosas. Ou elas se resplandeciam mágicas nos dando as boas vindas; nossos cajados fincados à poeira da estrada.
Em média andávamos trinta quilômetros por dia. Morros, descidas, pedregulhos, orgulhos, ficam pelo Caminho. As paisagens espalham em nossos olhos uma mensagem única: a história de um longínquo passado, gotas de sangue dos escravos, ali, para sempre cristalizadas no chão do Caminho Real? Talvez o nome não condiga à realidade dos fatos, pois de real quem andou por ali foram os escravos, carregando nas costas reis, rainhas, princesas e nossos diamantes.
Em cada grão de areia, uma página não escrita; lamentos e gemidos soterrados. O Caminho é íngreme. Bolhas rompem-se doídas de nossos pés. Um gole d’água de cada vez; porque pode faltar. Vez em quando uma sombra. Quem dera o murmúrio de um riacho, mas a terra ressequida, diz que não.
Nossos olhos sobem montanha acima e de lá descem, desacoroçoados. Nossos pés e pernas estão cansados; mas qual outro melhor sentimento, que não esse do desafio? Decerto, muita gente preferiria acelerar seu carro morro acima; mas o verdadeiro Caminho se faz com os pés no chão.
Passa do meio dia e ainda caminhamos; entardece e uma torre de igreja lá longe diz que estamos chegando; exaustos. Os melros já se recolhem às brenhas do mato. O sol se despede, antes mesmo de secar nossas roupas do varal. Um morno banho. Comemos, bebemos e nos recolhemos, cada dia num leito, numa pousada; um lugar diferente a cada dia. Na manhã seguinte, mais um trecho adiante. Incógnitas. Os totens nos mostram o rumo; precisa-se interpretá-los, antes do próximo passo, para não errar o Caminho.
Os dias passam. E passamos todos nós, cada um com o seu queixume; mas ninguém ousa desistir – o Caminho é de Diamantes, que se fazem chamas no nosso peito. Agora, vários tendões me doem – digo a mim mesmo, são ladrões de sonhos... Então, faltando um dia para completar meus quatrocentos quilômetros, eu saio do Caminho, levando comigo o gorjeio dos melros. Há que se saber, quando se dizer não, a si mesmo!
Interrompo a minha jornada, nesse ano, mas meus companheiros seguem adiante, até o quilômetro seiscentos. Voltaremos no próximo ano, talvez chegar a Parati, no Rio de Janeiro. O nosso crescimento interior e o conhecimento da nossa própria história significam o maior diamante que colhemos do Caminho Real.








ESTRADA REAL-CAMINHO DOS DIAMANTES/MG


2 comentários:

  1. Parabéns jairo,vou te acompanhar por aqui também.Sucesso

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  2. PREZADO JAIRO, BOM DIA!!!
    Vi que vc tem alguma ligação com a ACACSC, e o caminho da ilha em florianópolis. Eu, minha esposa e nosso filhos queremos fazer o caminho agora em dezembro (entre os dias 08 e 18 mais ou menos) mas acredito que a a ACACSC não terá atividade programada para este periodo. Temos alguma experiencia em atividades ao ar livre e em caminhadas, mas gostariamos , se for possivel, de que nos indicasse algum guia ou agencia que pudesse nos guiar. OBRIGADO!!! meus contatos: cequinel@cequinel.com.br e 41 99974 7068

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