Meramente um rosto
Jairo Ferreira Machado
Livro-rosto, ou facebook, na linguagem universal dos internautas. Os mundos se resumiram num único e esse se tornou enormemente pequeno. Só que virtual, sem o alcance do toque das mãos. E de que servem essas mãos agora, senão para digitar os teclados do computador e ver de perto o rosto de alguém que está muito longe?
Volto ao tempo dos abraços e de quando tudo era longe sim, e difícil de ser alcançado. Estou a cavalo e de cima de um morro vejo à distância alguém me acenando, e em seguida esta pessoa toca as minhas mãos ou me abraça. Meu coração fervilha. O dela também. Transfundimos um ao outro o indispensável calor humano e trocamos afetos; ainda que seja somente um olhar, uma fragrância, um sussurro, um beijo de face, um beijo de mãe.
Agora, tudo é muito diferente!
Um rosto me olha do computador, numa inexpressiva confissão ou pergunta. Ele parece frio, sem pressa de sair dali; a menos que eu resolva deletá-lo, e isso eu posso fazer a qualquer instante, já que não dialogamos - nenhuma emoção, tampouco um mexer de lábios; e nem sequer um piscar de olhos.
Também a máquina que o revela é fria. Eu bem poderia me aproximar e tocar a tela com os meus lábios; talvez eu animasse aquele rosto a sorrir ou falar comigo. Porém, nesse momento acontece uma pane na eletricidade; e o rosto se vai, sem me dizer adeus. Só então eu percebo que tudo é efêmero e ilusório; inclusive, eu! Se não saio por aí a ver lá fora a vida, a verdadeira vida.
Ah!... Esse tal de facebook!
Foto: Caminho Real
Falou, amigo! Eu teço essas lembranças no meu What a wonderful world..... HJ tudo é tão frio pro meu gosto.
ResponderExcluirAbs
Belvedere