sábado, dezembro 31, 2011

Viu-o dobrar a esquina, e ele nem sequer olhou pra trás. Quis morrer:

Nas ondas do mar


Ela se mergulhou de corpo inteiro contra as ondas que vinham trazendo o tom azulado ou seria esverdeado, do mar, fazendo vieses de espumas brancas, a onda rolando sobre si mesma, e sobre ela, no banho de um mar puro e refrescante.

Inaugurava, por fim, o biquíni cavadinho, que comprara para aquele verão. No mais, foi malhar, para se caber ali, sem sobras, sem sombras de dúvidas, já contabilizando os quantos olhares de admiração e de desejo pro seu lado.

O corpo previamente bronzeado pela natureza, no contraste do verde-claro ou verde-esmeralda de seus olhos, com os quais, nenhum homem se preocuparia, mas sim, com suas curvas e pernas, todas elas geometricamente perfeitas; tudo em cima.

O sol pintava de dourado o dia, ou seria de um âmbar-amarelo?
Tinha gabaritado nas provas finais; mas zerado no amor; eram as férias dela se fazer, e refazer-se, merecedora. Ouvia o ruído das ondas, para se saber e se sentir plena, como uma enguia-do-mar.

Seu corpo cortando as ondas e nelas se embevecia infinita, infinitamente única, como a lua na imensidão do universo.

Prendeu a respiração enquanto pode – ou foi o mar que o fez, por ela – esqueceu tudo lá fora, mergulhou mais fundo o pensamento, e ele veio, queria esquecê-lo, mas não pode, ele veio, bateu à sua porta e disse que iria embora.

Lembrou aqueles olhos azuis marejados de lágrimas, se despedindo – levava uma mochila nas costas. 

Viu-o dobrar a esquina, e ele nem sequer olhou pra trás. Quis morrer: na primeira oportunidade se jogaria no mar, e seus olhos foram mar. Agora, as ondas, sinuosas e macias, penteavam o seu corpo; primeiro penteou os seus cabelos, os seus seios hígidos, e passou direto por sua quase nada de barriguinha, torneou suas coxas e banhou os seus pés, e suas unhas.

Ela era do mar. Queria que o tempo fosse eterno, naquele momento.
O ar agora começava a lhe faltar; mas não era exatamente isso, que eu queria? Perguntava-se. O som das ondas aos poucos se afastando. Viu o namorado virar à esquina; e o desgraçado nem sequer olhou pra trás.

Batia os braços e mãos, para que mais tempo ficasse no fundo – ou era o mar que queria afogá-la – deixando-a a mercê das ondas, que agora eram uma seguida da outra; e ela, lá embaixo; no desespero.

O namorado tinha dobrado a esquina. O mundo havia acabava naquele instante.

Agora, de que serviria aquele biquíni cavadinho e seu corpo malhado, as curvas limítrofes, como estrofes de um soneto, que depressa as ondas levavam. Sentiu frio. Longe, muito longe, o murmúrio do mar; longe, muito longe, ouvia vozes.

Minutos depois, um calor intenso consumia a cianose de seus lábios, uma boca ávida, devolvia-lhe o oxigênio faltante, e a vida.

Um moço bonito, de olhos azuis, azuis ou verdes, agora não sabia, mas era ele: o seu salva-vidas; que ela não quisera que ele fosse, para a praia, para o mar, por que era muito perigoso – com todas aquelas meninas de biquíni cavadinho, dando bola pra ele, e pior, as ondas bravas do mar.

Tinha medo que ele se afogasse, e o perdesse, pra sempre!  Agora, agradecia aos céus, por que era ele – excelente nadador – naquele momento. E aqueles lábios carnudos, o doce-sal da vida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário